13.7.06

Um olho no sul do Líbano, outro em São Paulo

Cinco ou seis anos depois da retirada das tropas israelenses que ocuparam o sul do Líbano de 1982 a 2001, os tanques e os aviões das FDI fazem novas incursões e bombardeiam pistas de aeroportos, estradas e casas no que hoje é franco território do Hizbollah. Isso tudo como resposta ao sequestro de dois jovens soldados de Israel por militantes do Partido de Deus, que resolveu seguir a mesma estratégia dos companheiros do Hamas - sequestrar soldados e pedir em troca a libertação de militantes detidos em prisões israelenses. Tanto o Hamas quanto o Hizbollah não são mais meros grupos terroristas, são ou integram governos - o Hizbollah é parte do gabinete do governo libanês, e o Hamas é maioria na Autoridade Nacional Palestina. Agora seus atos são também atos de responsabilidade de seus respectivos Estados/Governos, e Israel não pode respondê-los como atos terroristas somente, uma vez que também são agressões de países estrangeiros.

A situação não é simples assim. Israel fica agora numa posição muito difícil. O seqüestro de soldados não provoca a comoção dos ataques de homens bomba a civis israelenses (muitas vezes contrários às políticas do Estado de Israel), os alvos são os homens de armas do inimigo - como numa guerra, é justificável na lógica do toma lá, da cá. Já a retaliação por parte de Israel fica truncada: é preciso reagir e rateliar, mas de que maneira? Como em reação a uma ação terrorista de um grupo, ou ao ataque provocativo de uma nação estrangeira? Numa reação massiva, civis do outro lado serão atingidos e mortos, e por causa do sequestro de um soldado, não de civis israelenses... Não se conta, ao que parece, nesse caso, com aquela parcela de apoio da comunidade internacional. Mas é preciso reagir ou essa prática (seqüestrar soldados) pode ganhar força, e não é à toa.


Em São Paulo temos uma certa semelhança num aspecto. O problema do alvo. O PCC inicou uma onda de atentados que mexe e muito com a vida do paulistano (e agora com a potencialidade de atingir todo paulista também), impondo a ordem (ou deseordem) do terror. É preciso que o Estodo reaja, tome medidas para se impor, faça uso da força. A questão é: reagir contra quem? Os bandidos, os chefes do PCC já estão presos. Colocá-los em "regime diferenciado" pode ser um problema, uma vez que dentro do próprio Estado e na sociedade civil há correntes contrárias à prática de isolamento drástico. Reagir contra a condição de miséria e exploração que são o substrato da violência? Ora, isso é mexer nas bases do próprio poder de quem controla o Estado. Mas é preciso reagir, sob a pena de, não o fazendo, perder o controle e a ordem. E ninguém quer isso. Muito menos os conservadores quatrocentões.

Vão-se formando na realidade aquelas imagens de ficção futurista pessimistas (como Blade Runner), em que num futuro próximo, quem tiver dinheiro se manda pra outras quintas, onde se pode comprar o paraíso guardado e garantido pela poderosíssima indústria bélica e de segurança da era digital, e os demais se ferram no caos extra muros. Alpha Ville e correlatos estão muito bem, obrigado. E mesmo que deixem de estar, seus moradores podem facilmente se mudar pra otras ilhas de tranquilidade. Com ou sem PCC, os helicópteros (São Paulo tem a segunda maior frota do planeta) continuam girando suas pás: quem fica sem ônibus, são outros Josés e Joões.

Na esteira, tucanos e petistas fazem queda de braço eleitoral, enquanto Cláudio Lembo finge que a batata quente não é dele (... "como outubro demora a chegar", deve estar pensando o magistrado...), e vai fazer isso até o final do mandato. Um provérbio africano sintetiza, como só o pode fazer a tradição, a coisa toda:

na briga entre dois elefantes, o maior prejudicado é o capim...