Estética da empulhação
O diretor de desenvolvimento da Micro$oft® Brasil foi entrevistado pela rádio CBN por ocasião do lançamento do Windows Vista®. Era um entrevista de estúdio. O âncora, não me lembro se era o Dimenstein, soltou de cara: quais são as novidades no Vista®? E a resposta veio rápida e seca: temos uma nova interface gráfica... [silêncio]. Segunda tentativa: sim, mas quais são as novidades, as novas ferramentas? (...)bom, as novidades são tantas que só experimentando é que o usuário saberá. [silêncio constrangedor, fim da estrevista].
Isso aconteceu, e posso ter me esquecido de algum detalhe (como dizia o Glauber, a memória é uma ilha de edição). Ok, eu não vou falar sobre software livre, ou GNU/Linux, ou descer o cacete no Windows® ou na Micro$oft®. Já não preciso fazer isso. O fato é simplesmente ilustrativo - e se aconteceu com um executivo da empresa do Bill, que farei eu?
Mas é isso, em maior ou menor grau, o que acontece em nossos dias. Num sistema social em que todas as disputas importantes são decididas por uma tecnocracia pretensamente isenta, em processos cada vez mais ocultados dos cidadãos, não há que se saber como as coisas funcionam, quem controla as catracas e onde os esqueletos são guardados: o que todo mundo quer saber é se o resultado é bonitinho. Leia-se politicamente correto. E uma ocupação cada vez mais requisitada por aí é o maquiador de resutados.
A coisa funciona mais ou menos assim: toma-se um tema que já está presente e altamente considerado pelas pessoas - como uma política social de inclusão. Apresenta-se o diagnóstico, problemas e desafios, segue-se a esposição do projeto, metodologia, metas, benefícios. Posteriormente, editam-se gráficos, books, filmes e vídeos belos e empolgantes de como a comunidade ou segmentos foram transformados.
Correto em todos os pontos: motivação, projeto, método, execução e resultados. Tudo bonitinho.
E ninguém, obviamente, sabe como as coisas funcionam. Quem alimenta o esquema, quem o orienta, o corpo de executores, a propriedade e pertinência... e questinar qualquer desses pontos é imoral, deplorável e criminoso. Como se o motivo a tudo justificasse e redimisse quaisquer erro ou descaminho.
Acredito que o leitor já reconhece o esquema em sua expressão real.
Como no caso dos sistemas operacionais computacionais, desinformação associada com um julgamento por critérios estéticos, de gosto - subjetivos, pessoais e "intraduzíveis" - resultam em vulnerabilidade, poderes ocultos, desrespeito, medo, cerceamento de liberdades e ineficiência.
Saber como as coisas funcionam significa conhecer as entranhas, as sujeiras, viscosidades, odores e coisas dessa espécie; significa expor. Da mesma forma que ninguém em sã consciência prefere cobrir um ferimento com bandagens, cremes e maquiagens para recompor o aspecto sadio ao invés de tratamento médico com seus bisturis, iodo, agulhas tesouras e pontos, a atitude de relegar o que importa a não se sabe quem e apenas requerer as amenidades decorativas é um descaminho, imbecilidade.
Que bombas que nada! Para destruir o mundo basta transformar tudo em entretenimento: apaziguam a alma e desligam a mente.
Isso aconteceu, e posso ter me esquecido de algum detalhe (como dizia o Glauber, a memória é uma ilha de edição). Ok, eu não vou falar sobre software livre, ou GNU/Linux, ou descer o cacete no Windows® ou na Micro$oft®. Já não preciso fazer isso. O fato é simplesmente ilustrativo - e se aconteceu com um executivo da empresa do Bill, que farei eu?
Mas é isso, em maior ou menor grau, o que acontece em nossos dias. Num sistema social em que todas as disputas importantes são decididas por uma tecnocracia pretensamente isenta, em processos cada vez mais ocultados dos cidadãos, não há que se saber como as coisas funcionam, quem controla as catracas e onde os esqueletos são guardados: o que todo mundo quer saber é se o resultado é bonitinho. Leia-se politicamente correto. E uma ocupação cada vez mais requisitada por aí é o maquiador de resutados.
A coisa funciona mais ou menos assim: toma-se um tema que já está presente e altamente considerado pelas pessoas - como uma política social de inclusão. Apresenta-se o diagnóstico, problemas e desafios, segue-se a esposição do projeto, metodologia, metas, benefícios. Posteriormente, editam-se gráficos, books, filmes e vídeos belos e empolgantes de como a comunidade ou segmentos foram transformados.
Correto em todos os pontos: motivação, projeto, método, execução e resultados. Tudo bonitinho.
E ninguém, obviamente, sabe como as coisas funcionam. Quem alimenta o esquema, quem o orienta, o corpo de executores, a propriedade e pertinência... e questinar qualquer desses pontos é imoral, deplorável e criminoso. Como se o motivo a tudo justificasse e redimisse quaisquer erro ou descaminho.
Acredito que o leitor já reconhece o esquema em sua expressão real.
Como no caso dos sistemas operacionais computacionais, desinformação associada com um julgamento por critérios estéticos, de gosto - subjetivos, pessoais e "intraduzíveis" - resultam em vulnerabilidade, poderes ocultos, desrespeito, medo, cerceamento de liberdades e ineficiência.
Saber como as coisas funcionam significa conhecer as entranhas, as sujeiras, viscosidades, odores e coisas dessa espécie; significa expor. Da mesma forma que ninguém em sã consciência prefere cobrir um ferimento com bandagens, cremes e maquiagens para recompor o aspecto sadio ao invés de tratamento médico com seus bisturis, iodo, agulhas tesouras e pontos, a atitude de relegar o que importa a não se sabe quem e apenas requerer as amenidades decorativas é um descaminho, imbecilidade.
Que bombas que nada! Para destruir o mundo basta transformar tudo em entretenimento: apaziguam a alma e desligam a mente.
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