14.12.06

Cortando na própria carne: Lula e o Meio Ambiente (nota)

Recentemente este blog fez referência a um vídeo do Greenpeace, e também tecemos algumas considerações. A mais preocupante delas é o fato de o Brasil ser o 4ᵒ maior emissor de CO2 na atmosfera, e isso por conta das queimadas na Amazônia - logo, se combatêssemos as queimadas, reduziríamos nossas emissões em 1/3 a 1/2. Boa parte do empenho na luta pela preservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável tem sido feita pelo heróico e competente trabalho da Ministra Marina Silva e sua equipe no Ministério do Meio Ambiente (ou MMA). Sob sua liderança, o Brasil tem alcançado uma posição de destaque nas negociações multilaterais sobre meio-ambiente e preservação, e a difícil tarefa de melhorar as condições no Brasil (que era uma luta quase solitária de ONGs) ganhou um importante aliado no poder estatal (e isso conta muito): ter como ministra uma ex-seringueira do Acre, que começou a vida política na luta comunitária e ao lado de Chico Mendes é um privilégio de poucos países.

Além da questão da Amazônia, o MMA enfrenta esses terríveis dias em que, além de queimadas, corte e derrubada ilegal de áreas de espécies ameaçadas, tráfico internacional de espécies selvagens, biopirataria; enfrenta-se a terrível questão dos famigerados trangênicos e toda a filhadaputagem das multinacionais da nascente indústria genética (quem já leu ou ouviu gente como Jeremy Rifkin ou Lestre Brown sabe do que e de quem estou falando). E as pressões internas são terríveis, sobretudo pela campanha publicitária do suposto sucesso do agronegócio brasileiro, que pressionou pela expansão da fronteira agrícola e agora exige a liberação do plantio de trangênicos e o fim das áreas de amortecimento (que devem proteger áreas de preservação).

Agora que é preciso que o Governo Lula mostre serviço, já que o "governo anterior" é o seu primeiro mandato - já que deixaram "o homem trabalhar" - é preciso que o Brasil cresça. E agora a culpa do crescimento pífio não é da falácia do modelo de desenvolvimento (it's devolution, baby!) brasileiro, mas de "entraves da política ambiental". Isso mesmo senhores, a culpa é do MMA, da ministra Marina Silva e sua equipe. Segundo essa reportagem de Mauricio Thuswohl para a Agência Carta Maior, o MMA é o bode expiatório para os problemas de crescimento, e seu desmantelamento acrescenta, de lambuja, o fim das dificuldades para práticas ambientalmente condenáveis.

Ainda segundo a reportagem na Carta Maior, e isso tem circulado na internet, o governo federal está falando na retomada do projeto nuclear para geração de energia - sem comentários. O que estamos vendo é o sacrifício das partes que ainda funcionam bem no governo pra justificar e desafogar a bagunça da economia, planejamento e gestão do país - é o famoso "nivelar por baixo". Coisa de peão. A questão é que carecemos de estadistas, visionários, gente que perceba que suas ações perdurarão para além do fim de seus mandatos. Lula sai em 2010, as conseqüências ficarão.

2 Comments:

Blogger Gustavo Nagel said...

E não é que a questão acaba caindo no erro da heterogeneidade de que temos falado lá no blog? Quer dizer, se entendi bem suas palavras, querem resolver um problema acabando com uma das poucas coisas que funcionam. Problema resolvido que é bom, nada.

quinta-feira, dezembro 14, 2006 10:48:00 PM  
Blogger André Tavares said...

Exatamente, acho eu. O Lula é tudo, menos um estadista. A economia brasileira só desenvolverá se reformas chatas, tecnocráticas forem implementadas. Não dão destaque político, não cedem lugar para personalismo e messianismo. Então, jogam a culpa nos canários.

sexta-feira, dezembro 15, 2006 12:03:00 AM  

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