Porque às vezes dá vontade de escrever...
Muitos escritores já falaram sobre a angústia de encarar a página em branco. Na verdade, quase todos falam alguma coisa assim quando indagados sobre o processo criativo, como o trabalho flui ou aparece. Alguns falam de dias de sofrimento até que aquele instante quase religioso, místico, intuitivo, aconteça e se sigam horas ou dias de escrita frenética, uma espécie de psicografia, como diria Lobão (desde Jung e a "consciência coletiva", a imagem de um autor que media um fluxo de idéias de algum 3o mundo meta-autoral e o papel parece ser fundamental para a idéia ou mito da atividade criativa).
Eu não sou um escritor. Escrevo mal: sequer domino a língua o suficiente. Mas o domínio da língua somente não basta; não tenho idéias, no máximo as conjugo num mosaico míope, desfocado... sou impressionável e impulsivo - jogo tintas de cores novas sobre a tela esperando harmonia e complexidade crescente. O problema é que tintas de bases diferentes arruínam o quadro (um amigo pintor me disse que materiais diferentes oxidam em tempos diferentes, e se uma cor oxida primeiro, destrói o quadro).
Espere, estou misturando coisas.
A questão é que sofro da angústia sobre o papel em branco - ou da tela (do computador) em branco, sendo que o problema real é a "mente em branco". O que me diferencia dos escritores é que não cumpro a segunda fase, não sei o que é experimentar o tal fluxo. E pago o preço por acreditar nisso que eu mesmo, acima, reconheci como sendo um mito do ato de criar.
A primeira vez que lí Dostoiévski completo (ou seja, não era uma versão de bolso de Crime e Castigo, que me caiu nas mãos lá pelos 12 ou 13 anos) foi numa edição da José Olympio de O Idiota. A nota introdutória descrevia como o romance fora composto: o gigante russo fizera oito (sim, oito) versões do romance - e cada uma delas poderia ser um romance diferente... e em carta a um sobrinha, dissera que, ainda assim, "não havia chegado à forma final pretendida".
Vejamos: 8 X 500... bom, pelo menos 4.000 páginas de trabalho. Provavelmente pouco tempo sobrava para "angústias ante a brancura do papel", e uma insatisfação pungente demais para que se possa falar de "mediação do fluxo", ou psicografia.
Apesar de ser notória a existência nomes que escreveram cedo, e antes de passada a juventude completaram suas obras (nada produzindo mais tarde ou morrendo antes disso), os nomes que figuram mais alto parecem ser daqueles operários da escrita (como diria Tom Zé). No final, os gênios se confundem com os obstinados. E gente como eu, pouco afeita à insistência, teimosia e necessidade neurótica de alcançar perfeições, prefere se agarrar à fantasia da "mão escrava" (como a de Chico Xavier), ou ao fatalismo de crer não estar elencado entre os bem aventurados visitados pelas Musas.
Mas se minha Bíblia está certa, ela diz que D'us criou com trabalho, que seu Filho aprendou pelo que passou e colhe frutos de seu penoso trabalho. E se o Filho é Palavra, também é, d'algum modo, trabalho. A falta de idéias parece ser o problema sempre presente onde há pouco labor.
Então, quando der vontade de escrever, ou quando faltar idéias, só há uma coisa a fazer: trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Eu não sou um escritor. Escrevo mal: sequer domino a língua o suficiente. Mas o domínio da língua somente não basta; não tenho idéias, no máximo as conjugo num mosaico míope, desfocado... sou impressionável e impulsivo - jogo tintas de cores novas sobre a tela esperando harmonia e complexidade crescente. O problema é que tintas de bases diferentes arruínam o quadro (um amigo pintor me disse que materiais diferentes oxidam em tempos diferentes, e se uma cor oxida primeiro, destrói o quadro).
Espere, estou misturando coisas.
A questão é que sofro da angústia sobre o papel em branco - ou da tela (do computador) em branco, sendo que o problema real é a "mente em branco". O que me diferencia dos escritores é que não cumpro a segunda fase, não sei o que é experimentar o tal fluxo. E pago o preço por acreditar nisso que eu mesmo, acima, reconheci como sendo um mito do ato de criar.
A primeira vez que lí Dostoiévski completo (ou seja, não era uma versão de bolso de Crime e Castigo, que me caiu nas mãos lá pelos 12 ou 13 anos) foi numa edição da José Olympio de O Idiota. A nota introdutória descrevia como o romance fora composto: o gigante russo fizera oito (sim, oito) versões do romance - e cada uma delas poderia ser um romance diferente... e em carta a um sobrinha, dissera que, ainda assim, "não havia chegado à forma final pretendida".
Vejamos: 8 X 500... bom, pelo menos 4.000 páginas de trabalho. Provavelmente pouco tempo sobrava para "angústias ante a brancura do papel", e uma insatisfação pungente demais para que se possa falar de "mediação do fluxo", ou psicografia.
Apesar de ser notória a existência nomes que escreveram cedo, e antes de passada a juventude completaram suas obras (nada produzindo mais tarde ou morrendo antes disso), os nomes que figuram mais alto parecem ser daqueles operários da escrita (como diria Tom Zé). No final, os gênios se confundem com os obstinados. E gente como eu, pouco afeita à insistência, teimosia e necessidade neurótica de alcançar perfeições, prefere se agarrar à fantasia da "mão escrava" (como a de Chico Xavier), ou ao fatalismo de crer não estar elencado entre os bem aventurados visitados pelas Musas.
Mas se minha Bíblia está certa, ela diz que D'us criou com trabalho, que seu Filho aprendou pelo que passou e colhe frutos de seu penoso trabalho. E se o Filho é Palavra, também é, d'algum modo, trabalho. A falta de idéias parece ser o problema sempre presente onde há pouco labor.
Então, quando der vontade de escrever, ou quando faltar idéias, só há uma coisa a fazer: trabalhar, trabalhar, trabalhar.
2 Comments:
Então... continue vociferando (sic)/ trabalhando!
Coram D-o
E aí Nilson? Bom vê-lo no blog. Obrigado pela força. Tentarei continuar, hehehe. Abraço.
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