Eleições: comentários e previsões de um míope
Com quase 60 milhões de votos, Lula foi reeleito para a presidência da República. Com 3 milhões de votos a menos do que obteve no primeiro turno, Geraldo Alkimin perdeu, e demonstra, vez por todas, que não é um nome nacional do PSDB. Provocou um pandemônio em seu partido, mexeu os pauzinho, deslocou a base de apoio de José Serra, desconsiderou solenemente a necessidade da benção de FHC e se lançou (como disse o Fernando Fernandes, são métodos "malufo-quercistas").
Mas isso era problema? Acho que não. O PSDB não tinha um nome de expressão nacional porque corria riscos de perder importantes posições regionais. Explicando: o Serra era um candidato natural à presidência. Fez o dever de casa em dois anos na prefeitura de São Paulo - consolidando a fama de "bom de serviço". Entretanto, se lançado ao Planalto, quem seria o candidato tucano para o governo de São Paulo? E SP é a segunda receita no País; se perdessem a presidência com Serra (e a receita da União - a maior, naturalmente) e perdessem em São Paulo, o partido chegaria em 2010 muito debilitado, e o PT e aliados controlariam 3 das quatro maiores receitas do país:
O cenário para 2010 seria de um PSDB inexpressivo, e o PT mais forte que nunca, controlando os 3 maiores orçamentos do país e em boas relações com o Aécio (que não é bobo). Aliás, se o PT de Minas não tivesse sido tão obtuso e lançado o Patrus Ananias para governador (lembrem-se: ele é o ministro da bolsa família), tenho minhas dúvidas se o Aécio ganharia... Outra vez, a burrice alheia salvou os tucanos.
Mas como o Alkimin queria desesperadamente se mudar para o Planalto/Alvorada/Granja do Torto, e o PSDB estava diante de um impasse, calculando o risco de Serra enfrentar (e possivelmente perder) a disputa para Lula (e o PT levando de lambuja o estado de SP), deram o doce pra criança. Ou melhor, soltaram o doce - e Alkimin, que puxava com tanta força, caiu.
Num tiro parto, o PSDB se manteve vivo e razoavelmente forte para 2010. Uma bela manobra, e aí temos:
Os tucanos se manterão vivos, e podem chegar ao próximo pleito nacional bastante azeitados. A estratégia, se era essa, deu certo. A disputa aberta agora é entre Aécio e Serra, que saem presidenciáveis naturais para 2010. Mas vou adiantar aqui: o PSDB é um partido paulista. O FHC gosta do Serra. Aécio é mineiro, anda muito bem pelos corredores petistas. Não serei pego de surpresa se, barrado (ou prevendo isso) pela tucanada paulista, ele deixar o partido e se lançar à presidência pelo PMDB de vovô Tancredo (partido com sólidas bases regionais, que há muito espera um nome forte em suas filieras) com o total apoio e bençãos de Lula e PT.
Preparem-se. Esse ano tivemos movimentos muito interessantes no tabuleiro.
O que me agradou muito nos resultados dessas eleições foi a derrocada do PFL. Possivelmente estamos diante de um moribundo - se já não for um cadáver. O golpe desferido contra o reduto bahiano foi demais. Jacques Wagner e o PT obtiveram uma vitória acachapante, um verdadeiro golpe de misericórdia no cacique ACM e a castração do estupefato ACM Neto (sem contar que no segundo turno, Lula obteve quase 80% dos votos por lá). A era ACM parece ter passado.
No Sul, foi cômico ver a predição de Bornhausen se desfazer: o Brasil está, agora, livre do PFL pelos próximo 20 anos, se não pela eternidade: fizeram um mísero governador, no (não ria, não ria...) Distrito Federal (kakakakakakakakakakaka...).
Outro fato curioso nessas eleições foi o fim, a desmistificação da figura do "formador de opinião". Todas as camadas ilustradas do país, os principais veículos de comunicação, eram contrários a Lula. E isso não fez a mínima diferença. O povo votou em Lula, e votou com mais intensidade no segundo turno. Porque?
Bom, se me permitem opinar, é simples. Como diz o Lenine (o cantor pernambucano, não o bolchevique - peraí, mas o Lenine cantor é bolchevique... bom, vocês entenderam...), "falta tratar o Norte como Sul". Como disse Tancredo, ou me baseando em sua frase, no dia em que o Norte e o Sul se conhecerem, quando as montanhas de Minas não puderem mais exercer sua função de "integração", o Brasil acaba. A elite e os formadores de opinião fizeram tudo errado. Pressionaram a pobreza ao limite, negaram as mínimas condições a muitos. Sou concordandte com Schumpeter: quem governa são elites, não me iludo. É assim em todo lugar. Mas a elite inteligente e conseqüente sabe que é preciso oferecer uma válvula, um espaço, alguma condição para as massas: foi o que fez a eleite inglesa, sueca, alemã, holandesa, canadense; ou seja, as grandes democracias de mercado entenderam que é preciso alguma rede de seguridade, algum vozeamento, atenção. Sem isso, hora ou outra, a turba bate às portas do Parlamento e dos Palácios. Quando isso não foi feito, tivemos França, Rússia, China, Cuba, etc, etc. Saímos no lucro de um Lula ter aparecido. Antes um líder de sindicato, sedimentado na estrutura partidária, que um ex-guerrilheiro esperando sua Sierra Maestra.
Quem passava fome e ganhou pão, votou em Lula. Porque sabe que mais que isso, a depender os formadores de opinião, jamais ganharão. Essa é a tragédia.
Abraço.
Em tempo: essas bobagens não poderiam ser escritas ou pensadas sem as profícuas conversas com o grande Ricardo Porfírio e o Moreira na cantina da FAFICH/UFMG. Se alguma coisa aqui faz sendito, deve-se a eles.
Mas isso era problema? Acho que não. O PSDB não tinha um nome de expressão nacional porque corria riscos de perder importantes posições regionais. Explicando: o Serra era um candidato natural à presidência. Fez o dever de casa em dois anos na prefeitura de São Paulo - consolidando a fama de "bom de serviço". Entretanto, se lançado ao Planalto, quem seria o candidato tucano para o governo de São Paulo? E SP é a segunda receita no País; se perdessem a presidência com Serra (e a receita da União - a maior, naturalmente) e perdessem em São Paulo, o partido chegaria em 2010 muito debilitado, e o PT e aliados controlariam 3 das quatro maiores receitas do país:
Maiores Receitas: ..................................... Legendas:
União ..................................................... Lula/PT
Estado de SP ........................................ Mercadante/PT
Cidade de SP ................................ o PT ganharia em 2008
Minas Gerais ....................................... Aécio/PSDB
União ..................................................... Lula/PT
Estado de SP ........................................ Mercadante/PT
Cidade de SP ................................ o PT ganharia em 2008
Minas Gerais ....................................... Aécio/PSDB
O cenário para 2010 seria de um PSDB inexpressivo, e o PT mais forte que nunca, controlando os 3 maiores orçamentos do país e em boas relações com o Aécio (que não é bobo). Aliás, se o PT de Minas não tivesse sido tão obtuso e lançado o Patrus Ananias para governador (lembrem-se: ele é o ministro da bolsa família), tenho minhas dúvidas se o Aécio ganharia... Outra vez, a burrice alheia salvou os tucanos.
Mas como o Alkimin queria desesperadamente se mudar para o Planalto/Alvorada/Granja do Torto, e o PSDB estava diante de um impasse, calculando o risco de Serra enfrentar (e possivelmente perder) a disputa para Lula (e o PT levando de lambuja o estado de SP), deram o doce pra criança. Ou melhor, soltaram o doce - e Alkimin, que puxava com tanta força, caiu.
Num tiro parto, o PSDB se manteve vivo e razoavelmente forte para 2010. Uma bela manobra, e aí temos:
Maiores Receitas:................................Legendas:
União .................................................. Lula/PT
Estado de SP ................................... Serra/PSDB
Cidade de SP .................. Alkimin 2008?/PFL até lá
Minas Gerais ............................... Aécio/PSDB
União .................................................. Lula/PT
Estado de SP ................................... Serra/PSDB
Cidade de SP .................. Alkimin 2008?/PFL até lá
Minas Gerais ............................... Aécio/PSDB
Os tucanos se manterão vivos, e podem chegar ao próximo pleito nacional bastante azeitados. A estratégia, se era essa, deu certo. A disputa aberta agora é entre Aécio e Serra, que saem presidenciáveis naturais para 2010. Mas vou adiantar aqui: o PSDB é um partido paulista. O FHC gosta do Serra. Aécio é mineiro, anda muito bem pelos corredores petistas. Não serei pego de surpresa se, barrado (ou prevendo isso) pela tucanada paulista, ele deixar o partido e se lançar à presidência pelo PMDB de vovô Tancredo (partido com sólidas bases regionais, que há muito espera um nome forte em suas filieras) com o total apoio e bençãos de Lula e PT.
Preparem-se. Esse ano tivemos movimentos muito interessantes no tabuleiro.
O que me agradou muito nos resultados dessas eleições foi a derrocada do PFL. Possivelmente estamos diante de um moribundo - se já não for um cadáver. O golpe desferido contra o reduto bahiano foi demais. Jacques Wagner e o PT obtiveram uma vitória acachapante, um verdadeiro golpe de misericórdia no cacique ACM e a castração do estupefato ACM Neto (sem contar que no segundo turno, Lula obteve quase 80% dos votos por lá). A era ACM parece ter passado.
No Sul, foi cômico ver a predição de Bornhausen se desfazer: o Brasil está, agora, livre do PFL pelos próximo 20 anos, se não pela eternidade: fizeram um mísero governador, no (não ria, não ria...) Distrito Federal (kakakakakakakakakakaka...).
Outro fato curioso nessas eleições foi o fim, a desmistificação da figura do "formador de opinião". Todas as camadas ilustradas do país, os principais veículos de comunicação, eram contrários a Lula. E isso não fez a mínima diferença. O povo votou em Lula, e votou com mais intensidade no segundo turno. Porque?
Bom, se me permitem opinar, é simples. Como diz o Lenine (o cantor pernambucano, não o bolchevique - peraí, mas o Lenine cantor é bolchevique... bom, vocês entenderam...), "falta tratar o Norte como Sul". Como disse Tancredo, ou me baseando em sua frase, no dia em que o Norte e o Sul se conhecerem, quando as montanhas de Minas não puderem mais exercer sua função de "integração", o Brasil acaba. A elite e os formadores de opinião fizeram tudo errado. Pressionaram a pobreza ao limite, negaram as mínimas condições a muitos. Sou concordandte com Schumpeter: quem governa são elites, não me iludo. É assim em todo lugar. Mas a elite inteligente e conseqüente sabe que é preciso oferecer uma válvula, um espaço, alguma condição para as massas: foi o que fez a eleite inglesa, sueca, alemã, holandesa, canadense; ou seja, as grandes democracias de mercado entenderam que é preciso alguma rede de seguridade, algum vozeamento, atenção. Sem isso, hora ou outra, a turba bate às portas do Parlamento e dos Palácios. Quando isso não foi feito, tivemos França, Rússia, China, Cuba, etc, etc. Saímos no lucro de um Lula ter aparecido. Antes um líder de sindicato, sedimentado na estrutura partidária, que um ex-guerrilheiro esperando sua Sierra Maestra.
Quem passava fome e ganhou pão, votou em Lula. Porque sabe que mais que isso, a depender os formadores de opinião, jamais ganharão. Essa é a tragédia.
Abraço.
Em tempo: essas bobagens não poderiam ser escritas ou pensadas sem as profícuas conversas com o grande Ricardo Porfírio e o Moreira na cantina da FAFICH/UFMG. Se alguma coisa aqui faz sendito, deve-se a eles.
2 Comments:
Olá André!
Só posso dizer que vc, de fato, tem tino para a coisa. Certamente, algum nível de especulação é necessária para julgamentos tão amplos, mas as informações foram reunidas de um modo muito interessante e convincente.
Acho que vc deveria se especializar é em política mesmo...
Gui
Obrigado. Só pra constar: temo que pelo bem da abrangência dos processos especulativos seja melhor eu não me especializar. : )
Postar um comentário
<< Home