Antroponotas políticas sobre as eleições americanas
Os EUA são uma democracia, isso nem mesmo seus maiores inimigos podem negar. Ser uma democracia está longe de significar ser justo, misericordioso, cordial, amistoso, íntegro, generoso. E nenhum país possui essas qualidades por ser democrático. Democracia, como os politicólogos nos têm ensinado, é um processo que inclui, tenta fazer o maior número possível de participantes no processo decisório: como seria muito custoso que todos os cidadãos das democracias modernas se pronunciassem num gigantesco debate, fazemo-lo via representação. Daí o termo técnico democracia representativa.
Os EUA vem fazendo isso (escolhendo representantes por meio do voto de todo cidadão) há mais de 200 anos. É um pioneiro, porque as experiências parlamentares européias, mesmo a inglesa, esbarram até recentemente na presença política de poderes não democraticamente instituídos, como a Coroa ou nobreza (há o caso do parlamento islandês, que tem, pasme, quase 1100 - isso mesmo: mil e cem - anos, com uma breve interrupção entre 1799 e 1845. Mas é tido como uma "divisão do corpo do Rei", e, além do mais, a Islândia é um pedaço de gelo no Atlântico Norte, e qualquer coisa acima da Escócia perde o status de real... é por isso que o Estado de bem estar social sueco é fábula, que o Noel mora por lá, e que nenhum brasileiro ganhou um Nobel).
Entretanto, todo esse pioneirismo e progressismo pode ter dado origem a um orgulho da (sic) tradição do novo. Como a democracia americana foi uma inovação em termos de aplicação dos pensamento e saberes de uma nova época, foi, como bem percebeu Tocqueville e Arendt, uma origem (no sentido mitológico), um gênesis, com direito a heróis civilizadores e legisladores (como ele dizem? ahn... Ah,sim! Os Pais Fundadores). E em mitos não se toca. Mudar o relato do mito de origem e de criação é perder o controle sobre sua eficácia. Como a moderna antropologia nos mostrou (Mauss, Lévi-Strauss, etc.), a tradição transmite o mito e seu poder, e as palavras não formam primariamente uma narrativa, antes, são uma fórmula mágica (quando um feiticeiro conta/canta como uma erva curativa surgiu, ou como um herói dominou seu efeito de cura, não está informando ou entretendo seu cliente e o público - apesar de também fazer isso - , mas invocando o próprio poder da planta - mobilizando-o). Por conseguinte, o rito preserva a intregridade do mito e sua forma operativa: a estética é o conservante do conhecimento (e da verdade).
Assim, é preciso preservar as formas rituais d'antes. Assim, em nome dos princípios de liberdade e auto-governo, quem decide as formas como se procederá a votação nos EUA, até hoje, são os distritos, ou condados. E um representante de cada um deles leva a decisão da localidade para Uóxintom (grafei assim pra ficar mais indígena...): tente imaginar aquele homem cheio de moralidade cívica e senso de dever patriótico que, findada as eleições, cavalgava incansável, dia e noite, levando o resultado das urnas até o local da fundação, de onde os homens livres do Novo Mundo surgiram. É uma imagem forte. Inebriante.
Em nome do orgulho, ou senso histórico, esse processo eleitoral obsoleto foi mantido. Há uma soberania da localidade, que inclusive aproveita que seus moradores virão às urnas para submeter plebicitos, referendos e consultas sobre temas domésticos. É bonito, mas antigo e inadequado.
Inadequado porque as Treze Colônias se tornaram a América. Inadequado porque o voto que o fazendeiro de Ohio dá aos Republicanos ultra-conservadores tendo em vista a manutenção da proibição do casamento gay ou de subsídios à produção agrícola, dá legalidade para bombas sobre o Afeganistão, para o treinamento de milícias reacionárias estrangeiras que adiante se voltam contra os EUA e outras democracias. Inadequado porque esse localismo insiste em manter o mundo do lado de fora. Inadequando porque um direito que para ser mantido viola os mais básico princípios de dignidade para tantos outros não é um direito.
Mas o método da tradição foi mantido, e muita gente graúda ganha com isso. Entretanto muita gente no resto do mundo (que é quase o mundo inteiro) sente as conseqüências e não tem outra saída que inserir o global na agenda política para corrigir as mazelas locais. Não é à toa que as democracias ou semi-democracias ao redor do mundo estão assoladas por neo-populistas, de direita e de esquerda, que pelo discurso virulento contra os Estados Unidos e a globalização virulenta sobem ao poder. Por mais que as pessoas saibam que "roupa suja se lava em casa", também sabem que para manter-se limpo é preciso não deixar entrar sujeira de fora - senão, não há quem agüente.
Em 1776 os Estados Unidos eram uma ameaça ao Antigo Regime, mas estava protegido pelo Atlântico, e as convulsões na própria Europa desviaram a atenção de seus adversários. Agora que as convulsões estão em todo lugar e o Atlântico foi encolhido, transformando num "mar interno" (como o Pacífico está se tornando), e, em algum sentido, os EUA representam o status quo, resolveram construir um muro. Há uma burrice teimosa: não há mais como ignorar o mundo. Átila ad portas.
E já que estamos falando em tradição, mito e rito, há um princípio na magia chamada contágio: como tudo é permeado pela mesma essência, o "mana" ou "orenda", dependendo do grupo lingüístico, as coisas se afetam a todo o tempo: no local estão, agora, presentes todos ou outros locais. O que se faz aqui, reflete lá. E se lá proferem una maldición, desanda o leite das vacas aqui, se una bendición, abre-se o ventre das fêmeas. Não há como ignorar as afetações e afetamentos. Não há como dirimir o aspecto relacional das ações humanas.
Não se pode negar as causas e responsabilidades locais na Venezuela, Iran, Bolívia, Argentina, Brasil, Nicarágua que levaram à ascensão de Chaves, Ahmadinejad, Morales, Kirshner, Lula e Ortega. Mas da mesma maneira, não foi por causas meramente locais que Keith Ellison foi eleito o primeiro mulçumano a ocupar uma cadeira no Congresso Americano - para início de conversa seu base de apoio eleitoral foi a comunidade somali (!) em Minnesota (!!). A dualidade local/global é um paradigma superado pela percepção infinitesimal: na mais elementar decisão ou processo, estão presentes e se afetam todos os demais elementos do sistema.
Mas não se pode tocar na tradição: ela é a autoridade que transmite a forma do rito e, portanto, a eficácia da magia. E como nos ensinou Durkheim, magia, religião, enfim, o sagrado, ao final (ao menos em termos sociológicos), é moralidade, são as representações que unem, são o cimento social. Nisso não se pode tocar, sob a pena de anomia.
Não se o que se quer é presevar, manter-se inalterado. Mas, como outro antropólogo, Sahlins, ensinou, é permanecendo o mesmo que mais se transforma. Os Estados Unidos mudarão, por mais que resistam. Mudar não é uma escolha. O que se pode escolher é a direção da escolha. Reforma. Não há vergonha nenhuma nisso, nem fraquesa. Há justiça, misericordia, cordialidade, íntegridade, generosidade, e, sobretudo, humildade. Mas essas são qualidades que não se possui por ser uma democracia. Provavelmente, a recíproca seja verdadeira, ou verossímil.
Por fim, parece que restam duas opções: reforma (quem lê, entenda), ou tirania: pois ao que presenciamos, não há democracia, por mais estritamente processual que seja, que resista.
* Modificado em 10 de novembro.
Os EUA vem fazendo isso (escolhendo representantes por meio do voto de todo cidadão) há mais de 200 anos. É um pioneiro, porque as experiências parlamentares européias, mesmo a inglesa, esbarram até recentemente na presença política de poderes não democraticamente instituídos, como a Coroa ou nobreza (há o caso do parlamento islandês, que tem, pasme, quase 1100 - isso mesmo: mil e cem - anos, com uma breve interrupção entre 1799 e 1845. Mas é tido como uma "divisão do corpo do Rei", e, além do mais, a Islândia é um pedaço de gelo no Atlântico Norte, e qualquer coisa acima da Escócia perde o status de real... é por isso que o Estado de bem estar social sueco é fábula, que o Noel mora por lá, e que nenhum brasileiro ganhou um Nobel).
Entretanto, todo esse pioneirismo e progressismo pode ter dado origem a um orgulho da (sic) tradição do novo. Como a democracia americana foi uma inovação em termos de aplicação dos pensamento e saberes de uma nova época, foi, como bem percebeu Tocqueville e Arendt, uma origem (no sentido mitológico), um gênesis, com direito a heróis civilizadores e legisladores (como ele dizem? ahn... Ah,sim! Os Pais Fundadores). E em mitos não se toca. Mudar o relato do mito de origem e de criação é perder o controle sobre sua eficácia. Como a moderna antropologia nos mostrou (Mauss, Lévi-Strauss, etc.), a tradição transmite o mito e seu poder, e as palavras não formam primariamente uma narrativa, antes, são uma fórmula mágica (quando um feiticeiro conta/canta como uma erva curativa surgiu, ou como um herói dominou seu efeito de cura, não está informando ou entretendo seu cliente e o público - apesar de também fazer isso - , mas invocando o próprio poder da planta - mobilizando-o). Por conseguinte, o rito preserva a intregridade do mito e sua forma operativa: a estética é o conservante do conhecimento (e da verdade).
Assim, é preciso preservar as formas rituais d'antes. Assim, em nome dos princípios de liberdade e auto-governo, quem decide as formas como se procederá a votação nos EUA, até hoje, são os distritos, ou condados. E um representante de cada um deles leva a decisão da localidade para Uóxintom (grafei assim pra ficar mais indígena...): tente imaginar aquele homem cheio de moralidade cívica e senso de dever patriótico que, findada as eleições, cavalgava incansável, dia e noite, levando o resultado das urnas até o local da fundação, de onde os homens livres do Novo Mundo surgiram. É uma imagem forte. Inebriante.
Em nome do orgulho, ou senso histórico, esse processo eleitoral obsoleto foi mantido. Há uma soberania da localidade, que inclusive aproveita que seus moradores virão às urnas para submeter plebicitos, referendos e consultas sobre temas domésticos. É bonito, mas antigo e inadequado.
Inadequado porque as Treze Colônias se tornaram a América. Inadequado porque o voto que o fazendeiro de Ohio dá aos Republicanos ultra-conservadores tendo em vista a manutenção da proibição do casamento gay ou de subsídios à produção agrícola, dá legalidade para bombas sobre o Afeganistão, para o treinamento de milícias reacionárias estrangeiras que adiante se voltam contra os EUA e outras democracias. Inadequado porque esse localismo insiste em manter o mundo do lado de fora. Inadequando porque um direito que para ser mantido viola os mais básico princípios de dignidade para tantos outros não é um direito.
Mas o método da tradição foi mantido, e muita gente graúda ganha com isso. Entretanto muita gente no resto do mundo (que é quase o mundo inteiro) sente as conseqüências e não tem outra saída que inserir o global na agenda política para corrigir as mazelas locais. Não é à toa que as democracias ou semi-democracias ao redor do mundo estão assoladas por neo-populistas, de direita e de esquerda, que pelo discurso virulento contra os Estados Unidos e a globalização virulenta sobem ao poder. Por mais que as pessoas saibam que "roupa suja se lava em casa", também sabem que para manter-se limpo é preciso não deixar entrar sujeira de fora - senão, não há quem agüente.
Em 1776 os Estados Unidos eram uma ameaça ao Antigo Regime, mas estava protegido pelo Atlântico, e as convulsões na própria Europa desviaram a atenção de seus adversários. Agora que as convulsões estão em todo lugar e o Atlântico foi encolhido, transformando num "mar interno" (como o Pacífico está se tornando), e, em algum sentido, os EUA representam o status quo, resolveram construir um muro. Há uma burrice teimosa: não há mais como ignorar o mundo. Átila ad portas.
E já que estamos falando em tradição, mito e rito, há um princípio na magia chamada contágio: como tudo é permeado pela mesma essência, o "mana" ou "orenda", dependendo do grupo lingüístico, as coisas se afetam a todo o tempo: no local estão, agora, presentes todos ou outros locais. O que se faz aqui, reflete lá. E se lá proferem una maldición, desanda o leite das vacas aqui, se una bendición, abre-se o ventre das fêmeas. Não há como ignorar as afetações e afetamentos. Não há como dirimir o aspecto relacional das ações humanas.
Não se pode negar as causas e responsabilidades locais na Venezuela, Iran, Bolívia, Argentina, Brasil, Nicarágua que levaram à ascensão de Chaves, Ahmadinejad, Morales, Kirshner, Lula e Ortega. Mas da mesma maneira, não foi por causas meramente locais que Keith Ellison foi eleito o primeiro mulçumano a ocupar uma cadeira no Congresso Americano - para início de conversa seu base de apoio eleitoral foi a comunidade somali (!) em Minnesota (!!). A dualidade local/global é um paradigma superado pela percepção infinitesimal: na mais elementar decisão ou processo, estão presentes e se afetam todos os demais elementos do sistema.
Mas não se pode tocar na tradição: ela é a autoridade que transmite a forma do rito e, portanto, a eficácia da magia. E como nos ensinou Durkheim, magia, religião, enfim, o sagrado, ao final (ao menos em termos sociológicos), é moralidade, são as representações que unem, são o cimento social. Nisso não se pode tocar, sob a pena de anomia.
Não se o que se quer é presevar, manter-se inalterado. Mas, como outro antropólogo, Sahlins, ensinou, é permanecendo o mesmo que mais se transforma. Os Estados Unidos mudarão, por mais que resistam. Mudar não é uma escolha. O que se pode escolher é a direção da escolha. Reforma. Não há vergonha nenhuma nisso, nem fraquesa. Há justiça, misericordia, cordialidade, íntegridade, generosidade, e, sobretudo, humildade. Mas essas são qualidades que não se possui por ser uma democracia. Provavelmente, a recíproca seja verdadeira, ou verossímil.
Por fim, parece que restam duas opções: reforma (quem lê, entenda), ou tirania: pois ao que presenciamos, não há democracia, por mais estritamente processual que seja, que resista.
* Modificado em 10 de novembro.
2 Comments:
Oi André!
Alguns comentários:
1) De repente, tenho a impressão de que vc deu um salto ao relacionar o sistema eleitoral americano com o significado ético e político global das decisões do governo - o fato de a opinião dos fazendeiros de Ohio, por exemplo, ser pouco sensível aos problemas globais, não é algo que possa ser corrigido por um ajuste desse tipo.
2) Quanto à "refundação" - cara, isso é impossível. O país é fundado com sangue e história. Para uma refundação, ali, só com outra guerra de secessão. Desta vez entre os de origem européia e os latinos...
3) De qualquer modo, acho que, de fato, a política externa dos EUA é de uma burrice inominável. Por outro lado, sinto que a liderança americana global gera uma séria ilusão de ótica. A atitude culturalmente aberta dos países europeus - notadamente, da França - não os tornou imunes aos conflitos com imigrantes porque, no fundo, os conflitos são com as culturas não ocidentais ou não ocidentalizadas. Os americanos apenas estão em evidência por terem mais poder de intervenção, mas não vejo como a liderança de outro país ocidental criaria um mundo mais harmônico. Lembra da crise das Charges? Quem começou foram os europeus.
Gui
Guilheme,
tudo bem? Obrigado pelo comentário crítico. Vou tentar defender meus argumentos aqui:
1) Sim, há um salto da crítica do sistema eleitoral americano para a censura do voto do fazendeiro de Ohio. Mas não pretendia dizer que mudando o sistema eleitoral mudar-se-á a opinião do eleitor (mas reconheço que a redação pode dar a entender isso). Na verdade estava pensando num sistema de retro-alimentação: a tendência localista associada a um sistema eleitoral distrital/majoritário. Como disse no post, acho que democracia é um processo, e o sistema de voto distrital/majoritário tem seus méritos (vide a Inglaterra), mas em sociedades com múltiplas clivagens (sociais, culturais, étnicas, educacionais, relitiosas, linguísticas, etc), não é apropriado que se mantenha o "jogo de soma zero" onde "o vencedor leva tudo". É preciso introduzir alguma proporcionalidade que reflita melhor a pluralidade, mesmo que a produção de maioria seja algo sacrificada - o que não significa necessariamente falta de governabilidade, como tanto temem os defensores do bipartidarismo/majoritário. Essa mudança no sistema eleitoral ajudaria na representação de minorias (e imediatamente das maiores minorias), e diminuiria gastos de campanha, que nos EUA são astronômicas (o que ajudaria muito aos candidatos não associados a grandes poderes financeiros). Outro ponto crucial de mudança é um sistema eleitoral unificado e uniformizado para todo o país - essa coisa de cada distrito decidir como se darão as eleições tem sido usado para impedir que um número significativo de eleitores votem (vide Flórida em 2000 e 2005): a burocracia para se registrar para votar pode ser impeditiva, e há acusações sérias de sistemas estruturados para impedir o registro de negros e latinos - ora, o que isso quer dizer? Como disse, acho que a mentalidade do fazendeiro de Ohio não vai mudar, mas vai ser contrabalançada pela representação de outras - e como o debate político vai mudar de direção uma vez que há outros vetores, ele (o fazendeiro) vai ter que considerar outras coisas (mesmo que para opor-se a elas, ao menos o fará de maneira consciente, não tão estrutural).
Eleições e campanhas são feita sobre uma agenda. O sistema eleitoral conta muito para se saber como ganhar a eleição, que temas é preciso tocar para ganhar o voto do eleitor. Um sistema eleitoral mais pluralista e inclusivo vai provocar um alargamento da agenda. E agenda, na verdade, é poder de voz. Voz aqui é discurso, debate, convencimento na esfera pública: política.
2)Verdade. Eu errei colocando a palavra refundação naquela frase. Mas se isso ajuda, veja que a palavra seguinte era "reforma" - pensei-as em associação, um curto-circuito terminológico (apeser de achar que refundação é uma opção: sempre é). Mas o que é engraçado no seu comentário é que realmente há uma tensão entre latinos, negros e anglo-americanos. Se a coisa continuar como está, eu não duvido que algo assim aconteça: imagine se o Islamismo encontra solo fértil na população afro-americana (o Malcolm X dizia que Cristianismo é religião de branco, e se converteu ao Islam...)? Mas levando em consideração que os Pais Fundadores não aboliram a escrevidão na Independência, será que os EUA são tão radicalmente preparados para encarar os "outros" como iguais? Dizer que todos os homens são iguais, mas na hora de qualificar o que é homem tem-se: branco, macho e cristão; aí é duro, né? Quando disse refundar, queria dizer alargar a aplicação dos princípios fundacionais dos EUA. É um pouco menos dramático... :)
3)Olha, eu conversei com uma professora que fez doutorado na França e viveu em Paris por uns 5 anos no início dos anos 90. Uma coisa interessante que ela e outras pessoas dizem, é que esse negócio de "atitude culturalmente aberta" dos europeus é uma balela sem fim. Eles gostam e muito dos "orientalismos" cultos, sofisticados. Realmente é muito bom ouvir e conviver com a fúria burguesa de um Derrida (judeu-argelino), de um Said (palestino/egípcio), etc. Eles sabem se portar à mesa, tomam vinho bordeaux no copo certo e conhecem bem a cultura ocidental. Deve ser realmente muito bom fazer crítica ao Ocidente cristão ao lado deles, ou entender a beleza do Leste vendo cinema iraniano numa sala aconchegante. Mas, fora isso, os europeus (ao menos os franceses - mas acho que aquilo tudo ainda é uma enorme federação de tribos bárbaras franco-germânicas) odeiam o oriental-africano comum. O africano que vai pra lá não é o africano negociador de cultura que veio pro Brasil, é o animista, que continua como tal, não negocia. O mulçumano não quer fazer desconstrução do Islam - ele quer enviar uma espada no coração do infiel. O conflito está na Europa pós-modernóide, como na paquidermia estadunidense. E os dois implodirão, seja pelo abraço da morte na Europa, seja na Jihad contra os EUA. Não defendo a manutenção da lideranças policial americana, nem o "absinto com ópio" europeu. Mas uma simetria, um levar a sério, os povos do Sul, NO sul. Não adianta simplesmente integrar quem está aqui: é preciso respeitar e integrar quem está lá. Como eu não quero sair do Brasil para ir para outro país (com uma única exceção), acho que o turco, senegalês, iraniano, chinês, etc., também não sairiam de seus respectivos países se as coisas andassem bem por lá... Na verdade essa última questão é indefensável numa resposta aqui... são múiltiplas camadas de racioncínio, e acabamos tocando na rocha do Imperialismo no século XIX. Mexeram num vespeiro Guilherme, agora, têm que aguentar.
Não sei se respondi ou defendi bem meus argumentos, mas diga aí...
André.
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