19.1.07

... cuja altura era de sessenta côvados II

Eu uso GNU/Linux Ubuntu. Quem lê esse blog sabe disso; mas pode não saber que eu não sou um geek, na verdade sei poucas coisas sobre computadores - se levar em conta o montante de coisas sobre computadores que há para se saber. Tudo que sei sobre computadores, sobre software e software livre, é por conta de uma posição moral, ética - é axiomático, é por conta do que creio ser o certo. E não é uma questão de ortodoxia, mas de ortopatia. Vou explicar.

Usar software livre é tornar o poder e a confiabilidade dos processos para o usuário, ao componente humano, que, ao contrário do que querem nos fazer crer, é o mais confiável por ser o elemento criativo e realmente inteligente. É retomar o conceito da produção colaborativa e cooperativa, o que está muito distante da noção de inteligência coletiva, massificada e consensual da cultura de hive mind.

A noção de copyleft é uma perturbação no sistema demoníaco de restrições à difusão de inovações e participação e usufruto dos resultados (não, isso não é coletivização no sentido comunista - mas "free as freedom" como diz Richard Stallman). Divulgar e colaborar com cultura livre é lutar pela liberdade criativa do homem, assegurada na antropologia bíblica. Qualquer um que se queira coerente com uma visão bíblica de desenvolvimento, acho, percebe o valor de um princípio tal como formulado por iniciativas como copyleft.

Por isso, para mim, esse tema evoca princípios, e pede status de ortodoxia e ortopatia.

E não são apenas confessores de credos reformados que pensam assim, tenham certeza. Qualquer programador hoje em dia, sabe que Sistemas Operacionais livres são consideravelmente mais confiáveis, e uma prova disso é o fato de os principais servidores, dataservers e backbones do mundo rodarem alguma variação de SO livre.

Mas o mundo é caído - e os homens também. Depois das conquistas da cultura livre, sobretudo no que tange à web e à transmissão de dados, os poderes estão preparando seu contra-ataque. Uma vez que parecem ter perdido a batalha no campo dos grandes sevidores e máquinas, e, por enquanto, na garantia da liberdade da internet, arquitetam um duro golpe contra nós, usuários comuns.

A idéia é que, da mesma forma que softwares proprietários (copyright) tomam decisões pelo usuário e impedem a interferência deste, agora as novas restrições serão asseguradas pelo hardware. Isso mesmo. Como o software proprietário é bastante ineficiente em garantir facilidade e segurança para o usuário e a integridade dos direitos, muitos usuários estão migrando para alternativas livres. E exige uma resposta da indústria de software. E ela vem na forma de uma conspiração maligna (no sentido de mal).

Um consórcio formado pelo esforço conjunto entre a indústria fonográfica, cinematográfica, de software e hardware e certos Estados lançou a noção de computador confiável, ou, em sua sigla inglesa Trusted Computing. Bom, isso é, a princípio, interessante. Usar computadores, que cada vez mais participam de processos vitais para a manutenção da sociedade global, de maneira confiável é consenso. O problema começa aqui: confiável para quem? O verdadeiro intento do TC é impedir a livre disseminação de conteúdos - protegendo certos agentes do mercado e certos interesses políticos /ideológicos.

Agora, os processadores, presentes em cada vez mais aparelhos além dos computadores pessoais ou servidores, serão programados para permitir que o usuário rode apenas determinados conteúdos ou programas, obviamente, de acordo com os interesses do consórcio. E, senhores, isso não é teoria da conspiração. Na verdade, já começou: por exemplo, se vc comprar um video-game de uma certa gigante do segmento de informática que recentemente entrou no mercado de consoles, você, consumidor, não pode desinstalar o SO e instalar outro de sua preferência... nesse sentido, o consolo não é seu. Trocando em miúdos, o que você comprou não foi o video-game, foi o seu uso segundo determinadas condições. Francamente...

Uma vez que isso é legal (a quebra das regras do licenciamento constitui-se num crime ou contravenção), é perfeitamente plausível que a indústria de software se una à de hardware pra assegurar que os usuários não farão nada fora do contrato.

[nota: se você continua achando que isso é teoria da conspiração, já ouviu falar em Wintel? Essa será a primeira manifestação de TC].

Qual a solução? Bom, primeiro, resistência. Como eu já falei em outros posts, use e incentive o uso de software livre em sua casa, trabalho, comunidade, igreja, escola, clube, etc. Procure quem sabe alguma coisa de software livre e que possa introduzí-lo no assunto; pesquise na internet. Se realmente entende o problema, procure uma escola de informática que dê formação em GNU/Linux. Se você acha isso exagerado, pense em alguém que saia por aí dirigindo um carro sem saber como fazê-lo... é quase a mesma coisa com um computador... e as conseqüência do mau uso podem ser piores, pode acreditar...

Segundo, use seu poder como consumidor. Da mesma forma que muita gente boicota produtos de empresas que usam mão-de-obra escrava ou infantil, ou que causam sérios impactos ambientais, da mesma forma que você procura alimentos livres de trangênicos ou de gorduras trans, procure comprar produtos e serviços licenciados por alguma licença livre, como GLP, Criative Commons ou outra. Quando for compra seu próximo computador ou laptop, prefira processadores AMD ao invés de Intel (você já sabe por quê).

Terceiro, converse com seus amigos e divulgue a questão. Esse é um problema que mais cedo ou mais tarde afetará a vida de todos: se a TC acontecer, alguém poderá "desligar" todos os computadores do mundo e de todo mundo. Arbitrariamente. Imagine isso acontecendo agora mesmo, enquanto você lê essas linhas.

Por fim, agradeço ao André Noel pela dica no Planeta Ubuntu.

Boa porte desse post está baseado nas informações contidas nesse artigo do Prof. Diego Saraiva, no Com Ciência (por favor, leia).

Assita também esse ótimo vídeo:




Abraço.

11.1.07

Padecendo sob o Mingüante

Eu sou sionista. Pra quem não sabe que é isso (ou acha que sabe), sionismo é uma doutrina política nascida na Europa no século XIX que basicamente prega um Estado Judeu na Terra de Israel ou Palestina. Sinionismo, como toda agremiação política e ideológica, não é um monolito; daí temos sionismo de esquerda, de direita, religioso, secular, etc, etc... até mesmo há sionismo cristão.

Não sou a favor da formação de um Estado Palestino, seja nos territórios ocupados, seja como na resolução de 1948 (nem naqueles dias isso fazia sentino, quanto mais hoje...). Mas sou seguidor das palavras do Rabino Joseph Shulam, que diz, sabiamente, que os palestinos, apesar de não terem direito à terra, têm direitos na terra. Com isso quero dizer que, resumidamente, o status de território ocupado da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golan é um erro. Ou o Estado de Israel anexa os territórios e oferece plena cidadania a todos os que lá residem, ou entrega os territórios para a formação de um Estado Palestino. Essa última opção é um mal menor em relação à ocupação.

Bom, como não poderia deixar de ser, tenho amigos e pessoas próximas que não concordam com minhas opiniões, e são, até, pró palestinos (no sentido de contrários a Israel). Certa vez na Kuyperiana (uma lista de discussão) eu disse que os desavisados esperassem. Esperassem para ver o que os militantes islâmicos fariam com seus patrícios cristõas. Toda a mídia dá noticía sobre "ataques israelenses", "massacres", "crimes" e toda sorte de abusos por parte de Israel. Entretando, nada se falou, nem freqüentou os site de notícias os pogroms de cristãos na Faixa de Gaza por milícias islâmicas.

Mas como só empatiza quem já sentiu a dor, de forma tímida começa um movimento pró-Israel e pró-ocupação entre cristãos palestinos. Eles sabiam que quando o inimigo externo saísse, eles seriam o novo alvo interno - eles, os infiéis. As incursões do exército israelense eram duras, mas não tanto quanto a vilania da polícia da ANP ou do Hamas. Quem esteve numa prisão palestina e numa israelense sabe do que está falando.

E foi uma grata surpresa o achado de um artigo do Der Spiegel tratando da situação de risco das minorias cristãs no Oriente Médio (leia o artigo em inglês); mas peca num ponto: sequer cita que há um oasis para comunidades cristãs: Israel.

Aliás, porque não há notícias sobre a ocupação do Tibet pela China, ou das Repúblicas Caucasianas pelos russos, dos curdos por turcos, a situação dos ciganos na Romênia, etc, etc, etc... Engraçado isso...