26.7.06

Voltando ao mundo real...

Sei que a audiência desse blog é muito pequena, mas é justamente por isso que entendo ser preciso explicações sobre minha ausênica. Estive durante toda a semana passada no 2º Encontro Nacional da Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã e Transformação Integral, realizada em Macacos. Como estava envolvido na cordenação do evento, estava enterrado num monte de tarefas - e a tensão que a preocupação de que tudo dê certo causa é grande. O Encontro, felizmente, foi um sucesso. As preleções, ou plenárias, foram muito boas e instrutivas; os GTs, apesar de nenhuma inscrição prévia, contaram com ótimas exposições. Outro ponto muito relevante para a Rede foi o lançamento do livro Cosmovisão Cristã e Transformação — Espiritualidade, razão e ordem social, pela Editora Ultimato - que é fruto do 1º Encontro Nacional da Rede, em julho de 2005.

Eu apresentei um pequeno trabalho no GT de Teoria Social, Filosofia e Teologia, sobre um antigo problema na teoria social que é o conflito entre individualismo e holismo metodológico (exemplificados por Weber e Durkheim, respectivamente), uma tentativa de rastreamento do problema na filosofia (muito mal feito) e uma possível solução do problema pela incorporação das categorias teológicas de pessoa e comunidade tal como formuladas por Martin Buber. Também participei do Colóquio de Teologia e Economia da Sociedade Kuyper, falando um pouquinho sobre as opções de forma de engajamento social do cristão: a Teologia da Libertação e o Neo-Calvinismo, a partir da crítica de Nicholas Wolterstorff. Enfim, foi muito legal, e essas discussões terão continuidade no grupo de teoria social e teologia da AKET.

Já está firmado que o próximo encontro será na última semana da julho, em Curitiba. Para quem gosta das colunas no site da Rede, estou retomando essa semana... logo teremos um texto novo.

Abraço.

Saiba quem são: Max Weber, Émilie Durkheim e Martin Buber (Wikipedia rocks!)

13.7.06

Um olho no sul do Líbano, outro em São Paulo

Cinco ou seis anos depois da retirada das tropas israelenses que ocuparam o sul do Líbano de 1982 a 2001, os tanques e os aviões das FDI fazem novas incursões e bombardeiam pistas de aeroportos, estradas e casas no que hoje é franco território do Hizbollah. Isso tudo como resposta ao sequestro de dois jovens soldados de Israel por militantes do Partido de Deus, que resolveu seguir a mesma estratégia dos companheiros do Hamas - sequestrar soldados e pedir em troca a libertação de militantes detidos em prisões israelenses. Tanto o Hamas quanto o Hizbollah não são mais meros grupos terroristas, são ou integram governos - o Hizbollah é parte do gabinete do governo libanês, e o Hamas é maioria na Autoridade Nacional Palestina. Agora seus atos são também atos de responsabilidade de seus respectivos Estados/Governos, e Israel não pode respondê-los como atos terroristas somente, uma vez que também são agressões de países estrangeiros.

A situação não é simples assim. Israel fica agora numa posição muito difícil. O seqüestro de soldados não provoca a comoção dos ataques de homens bomba a civis israelenses (muitas vezes contrários às políticas do Estado de Israel), os alvos são os homens de armas do inimigo - como numa guerra, é justificável na lógica do toma lá, da cá. Já a retaliação por parte de Israel fica truncada: é preciso reagir e rateliar, mas de que maneira? Como em reação a uma ação terrorista de um grupo, ou ao ataque provocativo de uma nação estrangeira? Numa reação massiva, civis do outro lado serão atingidos e mortos, e por causa do sequestro de um soldado, não de civis israelenses... Não se conta, ao que parece, nesse caso, com aquela parcela de apoio da comunidade internacional. Mas é preciso reagir ou essa prática (seqüestrar soldados) pode ganhar força, e não é à toa.


Em São Paulo temos uma certa semelhança num aspecto. O problema do alvo. O PCC inicou uma onda de atentados que mexe e muito com a vida do paulistano (e agora com a potencialidade de atingir todo paulista também), impondo a ordem (ou deseordem) do terror. É preciso que o Estodo reaja, tome medidas para se impor, faça uso da força. A questão é: reagir contra quem? Os bandidos, os chefes do PCC já estão presos. Colocá-los em "regime diferenciado" pode ser um problema, uma vez que dentro do próprio Estado e na sociedade civil há correntes contrárias à prática de isolamento drástico. Reagir contra a condição de miséria e exploração que são o substrato da violência? Ora, isso é mexer nas bases do próprio poder de quem controla o Estado. Mas é preciso reagir, sob a pena de, não o fazendo, perder o controle e a ordem. E ninguém quer isso. Muito menos os conservadores quatrocentões.

Vão-se formando na realidade aquelas imagens de ficção futurista pessimistas (como Blade Runner), em que num futuro próximo, quem tiver dinheiro se manda pra outras quintas, onde se pode comprar o paraíso guardado e garantido pela poderosíssima indústria bélica e de segurança da era digital, e os demais se ferram no caos extra muros. Alpha Ville e correlatos estão muito bem, obrigado. E mesmo que deixem de estar, seus moradores podem facilmente se mudar pra otras ilhas de tranquilidade. Com ou sem PCC, os helicópteros (São Paulo tem a segunda maior frota do planeta) continuam girando suas pás: quem fica sem ônibus, são outros Josés e Joões.

Na esteira, tucanos e petistas fazem queda de braço eleitoral, enquanto Cláudio Lembo finge que a batata quente não é dele (... "como outubro demora a chegar", deve estar pensando o magistrado...), e vai fazer isso até o final do mandato. Um provérbio africano sintetiza, como só o pode fazer a tradição, a coisa toda:

na briga entre dois elefantes, o maior prejudicado é o capim...

12.7.06

Cumprindo o papel da Imprensa III

Seguindo a indicação do blog do Juca Kfouri - de quem sou fã - li que a renomada revista alemã Der Spiegel publicou uma reportagem em que se pergunta se a FIFA anularia o título da Itália caso ficasse comprovada o insulto de cunho racista do zagueiro Materazzi a Zidane na final da Copa. Desde que uma onda de manifestações racistas e até mesmo nazistas elegeu os estádios e partidas de futebol como palco, a entidade futebolística máxima formulou uma série de medidas legais duras contra quem fizer ou der suporte a atos de racismo.

Refazendo o caminho: Materazzi insulta Zidane, que revida com uma cabeçada e é expulso de campo. A França perde seu principal jogador, se desestabiliza e a Itália é campeã (tetracampeã). Organizações anti-racismo alegam que houve ofença racial ou étnica e é instaurado inquérito para se apurar o que realmente aconteceu. Dias e muita celeuma depois, Zidane vem a público e esclarece que tudo não passou de ofensas pessoais e à suas queridas mãezinha e irmã. Vale lembrar um detalhe, no mínimo, curioso: se a coisa toda fosse caracterizada como racismo, a decisão da Copa do Mundo '06 seria definida com base em punição por crime de discriminação racial - a Itália seria desclassificada e à França caberia o título. Seria demais até para o mais liberal dos espíritos. Se isso realmente acontecesse, aí sim, os campos de futebol na Europa se tornariam um inferno de agressões racistas. Tem horas que o melhor parece ser ficar calado. E, pra todos os efeitos, Zizou já lavou a honra da família.


Essa história toda me faz pensar no que está acontecendo no Brasil com respeito à aprovação do Estatudo da Igualdade Racial, que tramita no Congresso Nacional. Se passar, o Estatuto forçará o Estado a resguardar uma parcela significativa das vagas em instituições públicas de ensino superior para negros, mulatos e indígenas. Uma parcela significativa da população que não tem acesso a educação básica de qualidade, saúde, segurança, nem será suportada por programas de assistência ao estudante universitário carente (porque o governo não tem - é preciso que as universidades recolham contribuições para o fundo de bolsas, o que é ilegal, e preste auxílio ao estudante carente; como é o caso da UFMG com a FUMP) entrará para a universidade por causa de sua cor de pele ou origem social. A universidade é uma meritocracia, e deve permanecer assim, porque esse é seu caráter - deve recolher e investir nos melhores. O problema e sua solução não passam por "enfiar" os desposuídos e historicamente alijados de seus direitos dentro das instituições. É preciso dar condições de competitividade pelas vagas - o acesso a elas é o bom ensino fundamental e médio (que hoje só tem quem estuda em escolas particulares - mas quem estuda em boas escolas públicas, como o CEFET-MG ou o COLTEC, tem grandes chances, o que prova que é possível ensino público de alta qualidade). Nem adianta querer com programas de "igualdade racial" esconder que o problema do ensino superior tem a ver com o sucateamente das Federais, com o número insuficiente de professores e a necessidade de criação de novas vagas.

Se basearmos as "ações afirmativas" em "ações de (falsa) piedade", e ao invés de igualarmos condições reais, emularmos o paraíso por meio e na legislação, podemos ter o pleno estabelecimento de um sentimento de ressentimento entre raças à lá América, fazendo com que estudantes que se considerem ou forem considerados brancos e pobres se sintam prejudicados por estudantes negros ou indígenas. É "facil" operar com essas categorias na Europa ou nos EUA, mas aqui não é. Estamos produzindo coisas absurdas como Skinheads mulatos, que por razões óbvias não poderem atacar negros, então atacam nordestinos ou homossexuais. Não podemos deixar que se estabeleça entre nós a cultura do ressentimento. Somos racistas, sofremos profundamente com um racismo discimulado, que pode doer muito mais e ser muito mais difícil de curar - mas a cura não me parece passar por um "racismo institucionalizado", pela segregação. Teremos igualdade racial, quanto estabelecermos a medida da igualdade na garantida da plena cidadania a todos - seja quem for. Às vezes, pode ser melhor deixar a taça com a Itália, e nos mantermos os melhores jogadores do mundo - e argelinos.

Cumprindo o papel da Imprensa II

A imagem da cabeçada de Zidane em Materazzi não pode ser veiculada. É, não pode. A grande indústria do entretenimente que enche os cofres da FIFA e fazem da Copa um grande negócio se faz, inclusive e sobretudo, com a venda da exclusividade das imagens e transmissão a algumas poucas emissoras e conglomerados de comunicação. No Brasil, na TV aberta, somente a Rede Globo pode exibir o caso. É uma nova fase da história da comunicação de massa: só quem tem dinheiro para pagar pode exibir ou ver o fato. A notícia é dinheiro - ou favor, já que a Globo pode ceder as imagens pra quem quiser.
E isso, provavelmente vai piorar. Nos EUA, desde a Guerra do Vietnan, o Exército não permite que jornalista independentes acompanhem as tropas para cobrir os conflitos. Naquela ocasião, o desastre político e militar mobilizou a opinião pública que passou enfaticamente a exigir a retirada das tropas americanas do sudeste asiático, pois estava bem informada pela cobertura jornalística. O Exército Americano não errou duas vezes. Na Guerra do Iraque (a de agora e a do início dos '90), os jornalista eram convidados, sim, senhores, convidados a cobrir a guerra junto às tropas. Quem tivesse qualquer postura independente não é chamado. E a cobetura por outro ponto de vista fica extremamente dificultada.
Da guerra no Iraque à Copa do Mundo, vai-se manifestando o poder dos Donos da Notícia, Senhores da Palavra - Dominadores do Mundo. Somente a internet está livre. Ainda...

Cumprindo o papel da Imprensa...

Ok, o post anterior teve sua premissa desmontada. Zidane não foi insultado por Materazzi com base em sua origem argelina, nem foi chamado de terrorista sujo - foi o que disse hoje o jogador francês numa entrevista à rede francesa Canal Plus. Tudo parace ter girado em torno de ofensas familiares. Nem Zidane é um mocinho, nem Materazzi um bandido - os dois compartilham aquela zona cinza que torna tudo muito normal (aparentemente).
Eu postei a informação com a ressalva que nada havia de oficial ou confirmado, mas o conteúdo do post tinha como certo o caso de racismo. Melhor que não tenha sido, seria uma situação muito triste e desconcertante pela impotência de todos para resovê-la. Agora, provavelmente, a Bola de Ouro, prêmio da FIFA para o melhor jogador do torneio, será tirado de Zidane, e o resultado da final fica intocável - a Itália é tetracampeã e ningúem tasca.
Materazzi exagerou nas provocações, mas foi Zizou quem pisou na jaca - o selecionado francês se desestabilizou e perdeu. No fim das contas, tudo não passou de história de futebol...

10.7.06

Para Zizou

Não há nada confirmado, não há nenhum comunicado oficial sobre o que provocou a reação de Zinedine Zidane, que aplicou uma violenta cabeçada no zagueiro italiano Materazzi. Provocações entre jogadores (sobretudo de zagueiros a atacantes) são comuns no futebol, e Zidane tem os ouvidos mais que calejados e relevaria qualquer coisa feita, dentro dos parâmetros da normalidade, para provocá-lo. O que o fez reagir de maneria tão raivosa e inusual fora de outra ordem. Uma provocação racista, é o que mais está sendo alardeado na mídia. Materazzi teria chamado Zidane de pied-noir de merde, uma agressão profunda aos franco-argelinos envolvidos na tragédia da Guerra da Argélia, e em seguida acrescentou um terrorista sujo, tendo em vista a origem norte africana do jogador da França.
Numa Copa em que a FIFA tanto queria livrar o futebol das manifestações de racismo (ultimamente tão recorrentes nos estádios espanhóis e italianos), onde antes do próprio jogo contra o Brasil, o capitão Zidane lera uma declaração em repúdio ao racismo, justo aí uma coisa dessas toma lugar... o problema é sério e não estamos nos dando conta de sua amplitude. Bonito ou não, a atitude de Zidane pode ter sido uma explosão de dor, única possibilidade de dar voz à impotência: que fazer quando outro jogador, numa final de Copa do Mundo lança mão de uma provoção dessas? Que fazer meu D'us? Deixo o poema da música Denia de Manu Chao, para Zidane, e para quem se importar:

Denia

Pobre Argélia
A vida pulsa no rítmo de seu desalento
A vida, ela mesma, é uma mentira
Meu coração sofre em vê-la
Pobre Argélia
A vida através dos seus olhos
A vida como mentira
A vida saturada de policia
A vida embebica em
lágrimas maternas
A vida torturada com demência
Pobre Argélia

Quem realmente se preocupa
Na América
Com o que se passa na Argélia?
Quem realmente sabe??

(Manu Chao - Próxima Estación: Esperanza)

9.7.06

Carlinhos Veiga na TV Horizonte

Qual não foi minha surpresa quando, zapeando, vi o finalzinho do probrama "Viola Brasil" do violeiro Chico Lobo, onde estava o fantástico Carlinhos Veiga e seus parceiros. Meu primeiro encontro com Carlinhos Veiga foi num Som do Céu no acampamento da MPC, em Macacos (Nova lima - Grande Belo Horizonte), e fiquei embasbacado com a qualidade da música, do arranjo, enfim, das qualidades artísticas que o adjetivam. Carlinhos é um violeiro, e dos bons. É crente, e dos bons. Consegue fazer música caipira de primeira, com temática bíblica ser se valer de qualquer "forçassão de barra", e também assume as raízes de seu estilo e tem feito um trabalho de recuperação dos clássicos da viola, o que é uma postura bastante incomum no universo de artistas cristãos.
Muito interessante e digno de nota, foi o convite do Chico Lobo, que também faz um trabalho muito legal com a viola em Minas, promovendo os valores mineiros (é num programa como o dele que ainda é possível ver um Pereira da Viola tocando...), levando um violeiro abertamente evangélico numa emissora católica - sem, em nenhum momento, "esfumaçar" isso.
Gostaria muito de ver mais gente como o Carlinhos: competente, talentoso e comprometido com o que faz. Conheçedor e promotor das raízes de sua arte e que consegue divulgá-la numa harmonia tocante com os temas e espírito da Palavra. Na verdade, eu mesmo gostaria de ser assim. Para além do talento, é preciso ter compromisso e ética do trabalho: não há nada sem esforço. Então fica a dica: Carlinhos Veiga e Chico Lobo (clique nos nomes, e conheça os sites - o do Chico pode estar em construção ainda...).

Abraço.

4.7.06

Ovelhas do lado esquerdo

Tem texto novo na coluna. O título é o mesmo desse post. Está um pouco confuso (se meu estilo fosse realmente bom, ou meu nome fosse consagrado, alguns diriam ques está "barroco"... hehehe). Há dois ou três erros de digitação (esse negócio é o diabo: resiste a todas as revisões), mas não achei nada de terrível. Bom, o texto: me impressionou muito a visita do Papa Bento XVI, sua fala e a repercussão que teve. A comunidade judaica reagiu com certa dor e despeito, e eu resolvi usar isso pra falar de outra coisa - como é a intensão estilística da coluna. Bom, não adianta reinventar o tema aqui: leiam o artigo, e me digam o que acharam.

Ovelhas do lado esquerdo.

Abraço.